Reduzindo o custo de capital por meio da divulgação de indicadores ESG

Bem-vindos ao primeiro de uma série de quatro artigos que abrem as publicações do blog da InspIR em 2020. Esta série vai abordar as razões pelas quais a divulgação de métricas ESG (sigla em inglês para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança) não só atendem a uma demanda urgente dos acionistas, mas também podem ajudar sua empresa a competir por capital de maneira mais eficiente nos mercados globais. Atenção, CFOs e conselheiros: de agora em diante, vocês desempenharão um papel cada vez mais relevante, já que é crescente o número de investidores que exigem que o Conselho fiscalize com lupa o desempenho dos indicadores ESG.

Parte I: O crescimento acelerado dos investimentos associados a métricas ESG demanda a divulgação de melhores práticas ESG

No passado recente, uma empresa podia publicar um relatório de sustentabilidade com algumas poucas métricas ESG, com descrições gerais de iniciativas tomadas para reduzir seu impacto ambiental, e ainda assim ser considerada uma socialmente responsável nas comunidades em que atua. Hoje, não mais. A prática de “greenwashing” (termo em inglês para quando uma empresa alega, de forma enganosa, adotar práticas ecologicamente corretas) tem pouco poder de influência sobre os investidores e outros stakeholders, que passaram a exigir a divulgação cada vez mais detalhada e frequente de métricas consistentes, que avaliem de maneira precisa o desempenho ESG das empresas, alinhado à sua estratégia.

Um exemplo é a mais recente Carta Anual escrita por Larry Fink, CEO e Presidente do Conselho da BlackRock, o maior investidor institucional do mundo, com US$ 7 trilhões em ativos sob gestão, direcionada aos CEOs do mundo todo: “Levando-se em conta todo o trabalho que já desenvolvemos ao nos engajarmos na integração ESG, e os riscos crescentes de investimento que envolvem sustentabilidade, estaremos cada vez mais dispostos a votar contra administrações e conselheiros quando entendermos que as empresas não estão progredindo na divulgação das ações, práticas e planos de negócios relacionados à sustentabilidade”.

Ao final de 2018, as carteiras com mandatos ESG totalizavam US$ 30 trilhões globalmente, equivalente a cerca de 40% dos ativos totais sob gestão. A previsão é que esse valor dobre nos próximos três anos, segundo a Global Sustainable Investment Alliance. Boa parte do capital que estará impulsionando esse crescimento virá de mulheres, millennials e pessoas físicas de patrimônio elevado, de acordo com um relatório publicado em setembro de 2019 pelo Bank of America Merrill Lynch. Esses públicos estão estimulando a demanda por investimentos de impacto e sustentabilidade, os dois segmentos associados a ESG que mais crescem, ao passo que investidores institucionais convencionais estão incorporando cada vez mais os fatores ESG em suas análises de risco.

E não foram apenas os investidores institucionais que passaram a demandar relatos ESG detalhados das companhias. Outros usuários dessas informações incluem analistas de equity e de crédito em bancos de investimento, fornecedores de índices, agências de rating, seguradoras, bolsas de valores e um grupo de players relativamente novo: o das agências que avaliam o desempenho ESG das empresas. Além disso, diversos bancos de investimento estão criando áreas específicas de pesquisa em ESG.

Os padrões de governança corporativa sempre foram levados em consideração, em menor ou maior escala, por praticamente todos os investidores institucionais que selecionam empresas para seus portfólios. Agora, os fatores sociais e ambientais também se tornaram um aspecto cada vez mais relevante para análise. O foco recente nos componentes ambientais e sociais das práticas ESG surgiu com mais força na Europa, tendo acelerado recentemente nos EUA e Japão. A ISS ((Institutional Shareholder Services), renomada empresa especializada em orientar votos de acionistas em assembleias, também ingressou no mercado altamente influente de ratings ESG, sobre o qual abordaremos em maior detalhe na segunda parte dessa série de artigos.

Entre 2016 e 2018, as carteiras que implementaram estratégias de investimento sustentável cresceram 38% nos EUA, de acordo com a Global Sustainable Investment Alliance, enquanto no Japão esse número quadruplicou, atingindo 18% do total de ativos sob gestão. As carteiras ESG que implementaram métodos de triagem negativa/excludente, ou seja, aquelas que evitam ou excluem setores que impactam negativamente a sociedade ou o meio-ambiente, como álcool, tabaco e armas de fogo, totalizaram cerca de US$ 20 trilhões ao final de 2018, seguidas pelas carteiras com integração ESG que somaram US$ 17,5 trilhões. Ambas ultrapassaram com folga as carteiras com perfil de engajamento/ativismo, que atingiram US$ 10 trilhões em ativos sob gestão.

Nota: Valores dos ativos expressos em USD bilhões

Fonte: Global Sustainable Investment Alliance

Ao longo do mesmo período, a emissão de títulos verdes (green bonds) por fundos soberanos e corporativos triplicou para US$ 100 bilhões, de acordo com o JPMorgan. Esse número subiu para US$ 271 bilhões apenas em 2019, segundo a Bloomberg. Na América Latina e Caribe, foram emitidos mais de US$ 12,6 bilhões em green bonds entre 2014 e 2019, de acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos). O primeiro título verde da região foi emitido pela operadora peruana Energia Eólica, em 2014. Já o Brasil emitiu apenas US$ 5 bilhões em green bonds nos últimos três anos.

Essa evidente e crescente tendência no mercado de capitais global tem impacto direto no custo de capital de qualquer empresa, e vamos falar mais sobre isso também na segunda parte desta série de artigos. As empresas que desejam manter um valor de mercado justo e captar recursos em termos mais favoráveis devem adotar as melhores práticas de divulgação ESG. Estudo da MSCI publicado na edição de julho de 2019 do The Journal of Portfolio Management afirma que “[…] [empresas com] elevados ratings ESG coincidem com valuation superior tanto no que tange aos indicadores de valor patrimonial sobre preço como em lucro sobre preço (book-to-price e earnings-to-price, respectivamente)”.

Garantir um padrão global de divulgação ESG tem sido responsabilidade crescente do Diretor Financeiro/CFO e da área de relações com investidores. Atingir esse nível requer uma dedicação considerável de tempo e recursos. Nós explicaremos as razões para isso na última parte dessa série de artigos.